segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Projeção

Me encantei com o belo sem olhar o que mais ele tinha de beleza,
Projetei nessa imagem o que queria que fosse de fato.
De fato, sem traço ele não era.
Contudo quão egoísta eu fui,
Sem permitir que se revelasse como "ser".

Me prendi à imagem que eu queria que ele fosse
E o ele, coitado, atado pelos meus "achaques" resolveu por deixar-me com minha ilusão.

Quando o personagem que criei não tinha mais forças de viver,
o traço se borrou e a figura não me pareceu tão bela.

De impulso, assim, meio sem pensar - meio sem sentir,
Atirei culpas ao outro,
Derramei culpas ao mundo...
Sendo que culpas só pertencia a mim
por ter podado uma rosa de se mostrar.

Hoje, brotando em outro jardim, a rosa cresce
e cresce lindamente.
E vejo com um misto de admiração e nostalgia.

Ele cresce agora em outro quintal.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Entre_laçados

Ele chegou assim:
sem pedir muito espaço
meio sem compasso
me causando embaraço

Olhou para mim,
Me entregou verdes
Me cheirou nas frestas
E prometeu amor sem fim.

Pegou-me entre os braços
Segurou minhas pernas
assim,
Como quem faz um laço
E nos amarrou.

E amarrada,
Emaranhada,
Desarmada,
Ele me teve...
Ele me tem,
E me terá!

Porque entre o nosso nó está o melhor de nós!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lá na Lua

Olá,Nos três últimos dias tenho pensado muito em você. Não! Por favor, deixa eu falar!
Eu não espero resposta sua, eu não espero que você diga que também tem pensado em mim. Na verdade, nos últimos três dias tenho percebido que não espero mais nada. No entanto, estou aqui querendo lhe dizer uma série de coisas, coisas que serão ditas em espera de nada.
Sabe esses dias quentes quando o céu é uma penumbra azul-marinho-quase-preto, salpicado de pontos brancos-luminosos?
Esses dias eu fico fitando o céu até dormir e imaginando figuras entre as estrelas e nos imaginando entre elas também.
Nessas noites penso em como seria perfeito tê-la aqui perto de mim, deitada no meu peito, meu queixo encostando em sua cabeça de modo que quando abaixo o rosto consigo beijar seus cabelos e você se sente protegida por mim.
Me deixa falar meu bem, eu só imagino! Imagino essas coisas com você! Me deixa terminar por favor.
Como dizia, nessas noites onde o céu está azul-marinho-quase-preto e você fica deitada no meu peito e eu beijo seus cabelos e dai você diz que eu sou seu herói, que eu te protejo. Nessas noites...
Eu gosto de ser seu herói, eu fico feliz em pensar que poderia ser o herói de alguém.
Meu bem, minha querida, eu imagino seus olhos olhando pra mim e chego a chorar pensando que você está realmente ali me olhando.
Eu tenho um segredo pra te contar, por que só contaria pra você.
Percebi, descobri uma coisa muito importante.
Não! Não! Você não consegue me ouvir sem me interromper! Meu anjo... tenha um pouco de paciência, eu estou tentando ser breve.
Então, falava de minha descoberta. Os homens ficam se perguntando de onde viemos e para onde vamos, ficam imaginando Deuses e criando crenças. E alguns desses homens acreditam que estamos sozinhos em meio ao Universo.
Pois bem, em uma dessas noites em que fitava o céu, a lua estava redonda, tão redonda e luminosa como nunca havia reparado antes. Era a última lua cheia do ano. Foi então que me dei conta. Em meio aquela vastidão de céu-negro, lá estava o que chamamos de lua. E ela nada mais era do que uma passagem. Sim! Exatamente! Um buraco no céu para um mundo que fica do outro lado. A lua é uma passagem que só se abre ao anoitecer, ela é como um olho mágico onde os outros - os que ficam do outro lado - nos observam e controlam o que a gente faz aqui.
Esse é o mistério da vida meu anjo... saber que do outro lado nunca escurece e que tem sempre alguém nos observando pelo grande olho mágico do mundo.
Agora, todas as noites fico deitado na grama úmida do quintal espiando o grande buraco do céu. E tem sido tão maravilhoso, tão excitante saber que descobri isso. tão tão tão tão maravilhosamente!
Nos últimos três dias tenho pensado muito em você e como seu rostinho se iluminaria e ficaria encantada quando lhe contasse isso. Foi a partir dai que pensei em você deitada no meu peito e em toda aquela história de herói.
Desculpe, comecei essa conversa dizendo que não espero mais nada.
Eu menti!
Desculpe, desculpe querida! deixa eu me explicar!
Eu menti porque queria poder te dizer essas coisas. Contudo, eu espero sim. Eu espero porque te imaginar faz meu coração bater tão rápido que parece que vai saltar do meu peito, por que imaginar seus olhos me faz lembrar dos pontos brancos-luminosos salpicados no céu, por que eu te carregaria no colo a vida inteira, eu te levaria café e te amaria pra sempre.
Eu espero meu bem, minha vida, meu anjo, que você aceite viajar pra lua comigo e que lá - do outro lado do mundo - a gente possa casar.
Isso... Pronto!

Espera, espera! Já estou indo!
Olá meu anjo. Desculpe, é o costume de te chamar de meu anjo. Não faço mais, prometo.
O que eu queria dizer? Não sei bem...nada... é só pra você pegar suas coisas, eu... eu estou precisando de mais espaço aqui.
Tá bem. Já está tudo ai? Você não quer sentar e conversar um pouco. Posso te fazer um café. Tá. tá bem então. Pressa, entendo.
Tá. Adeus. Adeus.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Cinzentude...

Hoje o dia não está colorido.
O céu, as pessoas, tudo está cinza.
Eu estou cinza.
Me conforta saber que até o cinza é uma cor.

Mercúrio

_Par perfeito_

Eu ando refletindo um pouco sobre isso,
mas estou me convencendo que não adianta esperar meu príncipe... ele não vai chegar.
Não sendo perfeito!
Ando assim: meio pessimista!
Mas meu horóscopo diz que é tudo culpa de Mercúrio,
ele que está fazendo eu ficar meio depressiva procurando "cabelo em ovo!".
Meu horóscopo usou esse termo: "Procurando cabelo em ovo!".
Bom, se ele falou está dito, mas vai passar... Mercúrio vai sair da minha vida em dias.
Vai passar!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

(Sem Nomenclatura)

Noite escura. Como de costume todas as noites são escuras. Mas essa tem uma escuridão diferente, uma escuridão gelada. Negra. Solitária no seu maior sentido pejorativo.
Foi nessa típica noite de "inverno-depressivo" que ela chorou.
O choro seco lhe feria a alma. O grito se fez surdo ficando engasgado na garganta.
Ela só queria poder falar com alguém que a ouvisse e desse um abraço forte e verdadeiro.
Que a colocasse no colo e fizesse carinho na sua nuca.
As pessoas costumam dizer que todos somos iguais.
Discordo.
Ela era diferente. Nunca conseguiu olhar muito tempo nos olhos de outras pessoas. Não acreditava nessa história de que "os olhos são o espelho da alma".
Mostrava nos olhos somente o que queria, aquela sensação de olhar fixo incomodava.
Achava estranho quando pessoas sentiam orgulho em dizer que as suas vidas eram um "livro aberto".
A dela era um livro fechado, bem fechado por sinal. Ninguém necessita saber de tudo da vida dos outros. Tinha verdades e segredos que só à ela pertenciam.
Tomavam café quente, ela gostava dele frio.
Dormiam a noite, ela lia e escrevia nas madrugadas.
Um "belo dia" ela encontrou um rapaz e o achou encantador. Não foi "amor à primeira vista" porque ela não acreditava nisso. Acreditava que "a primeira vista" pode se gostar da beleza, do cheiro, da energia etc. Mas amar não.
Amar é muito para se conseguir em meros olhares que são capazes de mentir e dissimular.
Pois então, ela o achou bonito, simpático e todo aquele blá blá blá.
Eles estavam em um Café.
Ele sorriu para ela, e ela sem graça derrubou o café na mesa. (clichê não?!)
Ele fixou o olhar nela por minutos que pareceram anos, depois levantou e perguntou se podia sentar.
Ela afirmou com a cabeça.
Ele era assim: um "tipão sem vergonha", simpático e falador.
Eles conversaram e sorriram e beberam café e trocaram telefones e se beijaram.
Tudo muito rápido.
Ela achou muito estranho. Mas gostou do inesperado encontro com o "desconhecido-simpático".
Eles se viam com frequência. Saiam, se divertiam juntos como duas crianças. Ele era mesmo uma pessoa encantadora...
Ela começou a ficar confusa.
Gostava de estar com ele, mas não sabia que nomenclatura usar para definir o que tinham. E era deveras um incômodo não saber a nomenclatura das coisas. Ter que chamar de "coisa" era frustrante.
O primeiro encontro no Café foi há três meses.
Ela pensava que antes que eles se assumissem como companheiros, ambos deveriam ter a certeza de que se amavam.
Não sabia se o amava.
Ela não sentia as tais "borboletas no estômago", ela não roía as unhas com ansiedade para vê-lo, eles não brigavam e ela não sofria por ele!
O fato de não sofrer era inquestionável!
Para que amasse ela tinha de sofrer. Precisava dormir chorando e acordar com os olhos inchados e o nariz entupido. Sem choro não existe amor!
Com ele não existia choro, nem brigas, sequer conflito de nenhuma espécie.
Ela concluiu: não o amava!
Mas gostava de estar com ele. E assim eles continuaram "estando".
E ela inconscientemente mudando com ele, e ele inconscientemente esfriando com ela.
Parecia que a muralha da China crescia entre os dois. Era congelante.
Ela começou a sofrer.
Não gostava das mudanças dele. O "desconhecido-simpático" se transformava em um "íntimo-muito-distante".
O coitado nem percebia, enquanto ela, tentava se aproximar. Colocou toda aparelhagem e começou a escalada pela muralha. Se empenhou em uma busca incessante pelo resgate do carinho que ele um dia à ofereceu.
Se esforçava em vão.
O sofrimento aumentava.
Sentia como se o coração fosse parar de bater a qualquer momento. O ar parecia faltar.
Maior é a dor da culpa, é saber que "temos o que plantamos". Chorava por saber que somente à ela pertencia a culpa sobre o acontecido.
Queria conseguir falar e poder dizer tudo que estava preso, queria que ELE, somente ele, a ouvisse e depois desse um abraço forte e verdadeiro sem dizer palavra.
Que a colocasse no colo e fizesse carinho na sua nuca.
...Só ele.
Ela não irá mais se divertir com os sorrisos fáceis dele, não mais vai se irritar com as frases clichês que chegavam no celular, nem receberá as flores que ela ignorava...
E a história dos dois terminará sem nomenclatura.
Hoje, ela percebeu que a noite estava escura. Como de costume todas as noites são escuras. Mas essa tem uma escuridão diferente, uma escuridão gelada. Negra. Solitária no seu maior sentido pejorativo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Avesso

Esse peito de onde saltam latentes e músculos/ e sangue
Que sofre uma eternidade de dor, pulso, impulso,
Onde neste corte seu sentimento é meu inverno/ frio!
Chorar a repleção daquele penar sentido pelas veias
Para contaminar as artérias em complexão mais todo restante
E corpo, sentimentos tudo apodrecer do negro da solidão:
Lágrima a lágrima você na lembrança/ um sentimento meu incompleto
Distante, mais distante que o fim de tudo
Sinto a um prisioneiro por mil anos e mil dores
Vibrando meu eu: cólera e desengano e nostalgia
O músculo ante daquele pulsar, agora jamais/ Bate!